Don't worry, be happy.

quarta-feira, 12 de março de 2014


Clarissa checava o batom vermelho e prometia que essa noite iria se comportar, suas amigas riram, ‘se comportar’ era uma coisa tão abstrata e não queriam complicar, saíam para se divertir, era pecado que uma noite de cada sete vivessem a vida que queriam viver? Claro que não. Era até injusto se parassem para pensar, cada um deveria aproveitar como quisesse seu tempo e momentos. Gabriela gargalhou, como se naquela cidade de interior pudessem fazer alguma coisa sem que virassem assunto, era a nova tatuagem do Léo, a banda alternativa de Jonathan, a menina que vestia calça vermelha, ou essas garotas que saíam, conversavam, beijavam e dançavam à sua maneira. Tudo era assunto. Tudo era errado. 
Mesmo assim Clarissa prometia que essa noite seria diferente, iria viver o outro lado. Enquanto suas amigas dançavam e pareciam extremamente felizes, (como alguém podia parecer tão livre?) segurava a segunda garrafa de cerveja e fingia não se importar, como todos os outros, que observavam cada detalhe, como Larissa, que dançava com os olhos fechados, cantando com todas suas forças uma música qualquer. Larissa não sabia, mas com seu momento particular, acabara de cometer um crime: estava vivendo. Qual era o problema com isso? Ela não sabia, sempre foi uma garota que gostava de descobrir o mundo, desvendar pessoas, achava lindo ver pessoas sendo genuinamente contentes, independente do trabalho, das despesas, da faculdade, pessoas que se deixavam viver sempre pareciam tão encantadoras para ela.


Então um garoto sentou ao seu lado. Igor estudava direito, ao mesmo tempo em que fazia cadeiras de filosofia, sua verdadeira paixão, verdadeira decepção de seus pais. Ele sentia que ela estava presa. Ela respondeu que estava. Por todos. Por essa mania que as pessoas têm de achar que sabem o jeito como todos devem agir. Era tão mais simples deixar que cada um escolhesse um jeito. Ele sorriu. Lembrou do ano passado, quando sentou no mesmo banco, nessa mesma festa e agradeceu por ser sua última noite naquela cidade, pequena demais para seus sonhos, pequena demais para dar espaço para as pessoas se permitirem. “Às vezes, tenho vontade de apontar o dedo do meio para o céu e sair caminhando pelas ruas“ ”Bem, você não devia se preocupar. Vou te contar um segredo que as pessoas levam a vida para descobrir, a felicidade incomoda. Se permitir ser feliz, no meio de tanta gente, é praticamente uma injustiça. Aqueles que conseguem são um grupo restrito, os que não conseguem, sentam em suas cadeiras e preferem observar. Como você mesma disse, observar é um saco!” . Ele apontou para Larissa. “Tá vendo aquela garota com os olhos fechados? Você acha que ela depende do que o resto das pessoas pensam? Ela sequer está vendo se a amiga do lado está ficando com alguém, ou se a garota de vermelho bebeu demais. Ela não se importa. Porque tem seus amigos, sua vida e seus momentos para escrever.”
 Clarissa chorou. Gargalhou depois. Agradeceu a Igor e pagou uma bebida, buscaram-na de olhos fechados. Deram as mãos e pularam, ao som de músicas idiotas sorriram, se beijaram. Não disseram como se chamavam, ela achava que ele deveria se chamar Chuck, ela tinha cara de Gabriela. Continuaram dançando, passos imcompatíveis com a batida, que parecia muito mais acelerada do que realmente era, ele a levou no colo para o banheiro, cantaram Cindy Lauper no karaokê, a noite parecia não ter fim. Quando acabou, ela anotou seu número no pescoço dele. Ele levantou o dedo dela para o céu e, cantarolando uma música, a levou em casa. Seriam assunto nas manchetes amanhã? Provavelmente. Pouco importava.
 

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